Harmonia que vem das cores

A forma como as pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem e o que eles são capazes de inspirar está muito relacionada ao uso das cores. Na hora de conceber um projeto de arquitetura e decoração, fatores culturais, modismos, idade, sexo, e o tipo do contexto em que se está inserido, influenciam na escolha dos tons que vão compor os espaços, já que a sensibilidade de cada um indica uma forma diferente de reagir ao colorido. A psicologia das cores define, por exemplo, que tons quentes passam alegria, energia, força, enquanto os frios acalmam e relaxam. Por isso, é preciso orientação para fazer da cor uma grande aliada até para melhorar a qualidade de vida.

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As cores são capazes de mudar nosso estado de espírito, diferenciam a atmosfera, alterando sua configuração, aquecem ou esfriam, valorizam e criam centros de interesse, aliviam ou sobrecarregam, e por isso mesmo sua utilização deve ser bem planejada, explica o designer de ambientes Carlos Henrique Loyo. Além das cores neutras (branco, preto, cinza, bege, marrom, basicamente), elas podem ser divididas em primárias (azul, amarelo, vermelho), secundárias (verde, roxo, laranja) e terciárias (a mistura entre as anteriores), continua o designer. "Se você tem um teto escuro, isso deixa o ambiente menor. A cor também pode valorizar algum detalhe, para chamar a atenção, como em uma parede verde entre outras neutras. Também é possível ter uma casa toda monocromática, em que se destaca um ponto colorido, ou ambientes em tons parecidos, explorando as escalas de cores análogas", ilustra Carlos Loyo.

Como explica o designer, as sensações que as cores despertam variam entre pessoas e culturas. "Para os japoneses, o laranja é alegria e amor, para os budistas significa humildade. No hinduismo, o lilás é sinal de sabedoria e elevação do espírito, já na cultura brasileira está mais perto da tristeza". A cor também faz referência imediata a imagens subconscientes, subjetivas e lembranças, e por isso é possível definir qual tipo de emoção que cada uma desperta. Carlos Loyo exemplifica: o branco é refrescante, absorve todas as cores, infere ordem, simplicidade, limpeza, clareza, pureza, inocência, divindade, harmonia; o cinza, a mistura do branco e do preto, pode inspirar sabedoria, mas também pode ser triste, melancólico, uma vez que parece remeter ao passado; o preto, a ausência das cores, entra em contradição, já que pode dar aos ambientes uma ar sofisticado (para mulheres), e tradicional (para homens), ou então depressivo, inspirando pessimismo, tristeza e dor e, em outro extremo, poder e dinheiro; o vermelho é motivação, atividade, calor, força física, amor físico, paixão carnal, vitalidade, indecência, ou crueldade, sendo uma cor mais vigorosa e expansiva; o laranja estimula o apetite, pode ser sinal de boa saúde, criatividade, sucesso, é revigorante (Carlos explica o uso do laranja, vermelho e amarelo em redes de fast-food por exemplo, sendo o primeiro relacionado à fome e o segundo à rapidez, equilibrados pelo terceiro); o amarelo ilumina, traz alegria, brilho, inspiração, riqueza, e por estar próximo do sol tende a gerar qualidades positivas e otimistas; o verde é tranquilizador, tem equilíbrio, frescor, umidade, facilita a cooperação, diminuindo as emoções e facilitando o raciocínio; o azul é a cor da espiritualidade, da ordem, confiança, religiosidade, serenidade, promotor da fé e devoção; e, por último, o violeta significa intuição, sensibilidade, fantasia e mistério, ou pode ter um ar mais introspectivo e triste.

"A cor pode trazer sensações mais harmônicas, agradáveis, ou mais agitadas e fortes, realçar detalhes. Se você escolhe um tom que tem a ver com a sua personalidade, vai se sentir melhor em casa", concorda a gerente de vendas do Varejão das Tintas, Andréia Mathias. "As cores estão cada vez mais se tornando um ponto essencial de projetos de arquitetura e decoração, pois cores distintas podem transmitir sensações completamente diferentes. O que chamamos de "psicologia das cores" é, em termos gerais, a relação que as mesmas tem com as pessoas e como influenciam seu dia-a-dia. Cada uma das cores pode ter diversos significados e o que no geral se diz é que elas devem estar de acordo com a personalidade e emoção que deseja transmitir o dono da casa. É interessante como muitas vezes notamos que os donos das casas procuram pintar suas fachadas de cores diferentes das de seus vizinhos, pois querem ser únicos e desejam que suas casas sejam reconhecidas. Este é um claro exemplo de como as pessoas buscam fazer com que a casa (e portanto a cor escolhida) reflita a identidade do dono", acrescenta Paola Vieira, a gerente global de cores da AkzoNobel, que inclui a marca de tintas Coral.

A presença de uma cor pode alterar completamente a percepção do espaço que nos cerca, continua Paola. "Por exemplo, um tom claro de amarelo pode ajudar a criar uma sensação de amplitude, enquanto um tom mais escuro ajuda a criar um ambiente mais aconchegante mas, ao mesmo tempo, dá uma sensação de perda de espaço. Um tom de azul claro (por transmitir paz e ser contemplativo) pode ser ideal num ambiente de estudos, enquanto o laranja - devido a seu dinamismo e vitalidade - pode ser ótimo para um quarto de brinquedos".

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Paola conta que, para saber se a escolha da cor foi correta, é só perceber se o resultado da pintura foi satisfatório, ou seja, quando o ambiente pintado tem a cara do morador e quando a cor da parede ajuda a transmitir o efeito desejado (um espaço vibrante, cheio de energia ou calmo e tranquilizador, exemplifica). "É extremamente difícil falar em 'cor certa' e 'cor a ser evitada', pois isso depende muito do ambiente que está sendo pintado e do resultado que se quer obter. Podemos pintar até uma parede de preto e obter um resultado muito interessante, caso a intenção seja criar um ponto de profundidade no ambiente, e deixá-lo neutro, sem deixar de ser interessante". Os tons neutros são mais fáceis de acertar quando não há orientação de um arquiteto ou especialista em cor, mas cada vez mais pessoas estão dispostas a colorir uma de suas paredes com um tom diferente do tradicional branco ou gelo. Os ambientes comerciais também tendem a receber mais cores neutras por comportarem diferentes pessoas. "A exceção se dá para empresas que possuem uma identidade visual forte, como por exemplo, lojas de fast- food, agências bancárias, agências de publicidade, entre outros", completa Paola.

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"A escolha das cores não segue uma regra. Dependendo do ambiente ou do propósito que se pretende transmitir ao local, as tonalidades podem ser definidas não necessariamente retratando a personalidade do cliente. Para definir as cores, deve-se primeiro analisar o que se quer: ambiente aconchegante, fresco, alegre, etc. Após a definição da proposta, a opção vem como conseqüência e a tonalidade varia de acordo com o gosto de cada pessoa. É importante pensar nas cores que gostamos e que nos transmitem boas sensações. Basta adequar ao gosto e às opções de tonalidade. Assim acontece com os efeitos decorativos, que podem expressar a personalidade do consumidor ou a personalidade criada para o ambiente, onde a parede pode ser o próprio objeto de decoração", pontua a gerente de marcas da Suvinil, Fernanda Dall'Orto. Ela afirma que, dependendo da intensidade, local e forma de aplicação, as cores podem ter significados positivos. "A cromoterapia utiliza a cor como instrumento principal na busca de equilíbrio e harmonia em um ambiente, por isso, é necessário atenção na escolha dos tons das paredes. Todos reagem às cores, conscientemente ou não. Determinadas cores estimulam, nos permitindo renovação emocional e de humor, portanto, é importante adequá-las para a finalidade de cada ambiente e combiná-las com as atividades que serão nele desenvolvidas. É recomendado que o cliente deixe os ambientes da maneira que mais lhe agrade. Cada cômodo pode receber tonalidades diferentes, por exemplo, quartos com cores tranquilizantes (azuis, verdes, tons cleans) e sofisticados, como cores neutras, nas salas. Cores vibrantes, como o vermelho, em cozinhas. Para quartos de adultos e crianças são indicadas cores suaves, que ajudem a proporcionar noites de descanso", continua.

FENG SHUI

O estudo das cores na arquitetura também pode seguir os preceitos do feng shui, técnica milenar que considera a energia dos ambientes. Além de indicar os melhores tipos de materiais a partir da leitura energética dos espaços e moradores, essa doutrina também encontra nas cores uma vibração própria para cada uma, explica a arquiteta e consultora em feng shui, Valéria Loureiro. “As cores nessa linha de pensamento estão ligadas aos cinco elementos: água (preto e azul, e em segundo lugar branco e cinza); madeira (verde e secundariamente preto e azul); fogo (vermelho, principalmente, mas também verde); terra (tons terrosos, como amarelo, marrom e laranja, além de vermelho); e metal (branco e cinza, com a possibilidade também de tons de terra).

Leia a coluna de Carlos Loyo no Lugar Certo
Leia a coluna de Valéria Loureiro no Lugar Certo

A análise do feng shui parte do desgaste e carência energética da casa e dos moradores para indicar, dentro de qual seria o elemento descrito para cada pessoa, qual cor deve ser explorada nos espaços. Ela pode vir em paredes, adornos, estofados, tapeçaria, obras de arte, flores ou vasos”, dá a dica Valéria Loureiro. Para a escola de feng shui demominada como Chapéu Preto, as cores também estão ligadas a setores da vida, como explica a arquiteta: trabalho (preto e azul); família e raízes (verde); prosperidade (verde); sucesso (vermelho); relacionamentos amorosos (terra e também cor-de-rosa); futuro e filhos (branco e cinza); pessoas que ajudam (branco e cinza), e, no centro, saúde (traduzida nos tons de terra).