O poder da arquitetura e da decoração

Neuroarquitetura ensina que o ambiente físico influi nas emoções e no comportamento das pessoas

Método estimula a convivência e promove o bem-estar

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postado em 27/02/2019 12:42 / atualizado em 27/02/2019 12:50 José Alberto Rodrigues* /Estado de Minas

Dentro do consultório de psiquiatria, foi adicionado um aquário visando efeitos terapêuticos positivos - Gustavo Xavier/Duvulgação Dentro do consultório de psiquiatria, foi adicionado um aquário visando efeitos terapêuticos positivos

Já entrou em um ambiente e sentiu um clima pesado? Ou simplesmente teve a sensação de frieza ou um tom de acolhimento? Segundo Ana Paula Guedes, arquiteta especialista em ambientes corporativos, a neurociência tem desenvolvido processos capazes de comprovar a influência dos ambientes na vida das pessoas, ou seja, o poder da arquitetura sobre a saúde e o comportamento humano. “Por meio desses experimentos sabe-se, objetivamente, que toda experiência que o ser humano vivencia é consequência do resultado de atividades do cérebro, da mente e de sua percepção individual”, afirma.

Priscilla Bencke, arquiteta especialista em neuroarquitetura, reitera que esses métodos podem ajudar a identificar quais são os elementos desses espaços que impactam nessas pessoas e de que forma é possível fazer com que esse impacto seja positivo, por meio de elementos como cores, iluminação e decoração. “O ambiente físico, desde que impacte no ser humano, pode ser chamado de ferramenta estratégica para alcançar o objetivo de torná-lo positivo”, diz. Essas impressões podem ser conscientes ou inconscientes, alterando emoções e, consequentemente, o comportamento das pessoas dentro desses espaços.

Segundo Bencke, quando se leva em consideração as potencialidades que um ambiente pode proporcionar, é possível criar lugares que dão aquela sensação de acolhimento e produtividade. Por exemplo, se o projeto em questão é o lar e o objetivo é relaxar, é possível criar algo bem estratégico para que a pessoa consiga relaxar no conforto de casa. “Se for o ambiente de trabalho, e o objetivo seja que as pessoas se tornem mais produtivas, a gente usa o ambiente físico para adequar os elementos do espaço, para que as pessoas possam trabalhar de uma forma mais bem-sucedida”, comenta. Para isso, é preciso realizar uma investigação personalizada sobre as pessoas que vão usar esse espaço, para entender o que realmente faz bem para elas.

O arquiteto Sebastião Lopes, sócio do escritório Arqsol Arquitetura e Tecnologia, explica que, em um projeto, são levadas em conta a harmonização das cores, a iluminação natural e artificial, a ventilação natural, a forma e a função dos espaços. “A neuroarquitetura se propõe a garantir a individualidade das pessoas, tanto no lar quanto no ambiente de trabalho. Criar cantos e recantos para leitura, meditação/relaxamento e espaços para sociabilidade. Promover perspectivas agradáveis em integração com a natureza”, frisa. Segundo ele, um ambiente que seja planejado alinhando as questões térmicas, acústicas e visuais influenciam beneficamente “o comportamento psicofisiológico do indivíduo, e as funções motoras no que se refere aos reflexos, à postura, ao equilíbrio, à coordenação motora e ao mecanismo de execução dos movimentos”.

Plantas e iluminação natural são dois determinantes para criar esse impacto positivo nas pessoas, porque proporcionam sensação de bem-estar e plenitude. “Esse contato precisa ser visual, ou seja, as pessoas precisam ver esses elementos para se sentirem bem, para se sentirem acolhidas no ambiente. A própria cor da luz do sol concebe um impacto fisiológico na pessoa”, observa Patricia. A arquiteta lembra que, ao meio-dia, temos um sol mais branco e no fim de tarde temos um sol mais amarelado, e que essas cores têm propriedades terapêuticas. “Esse amarelado estimula uma série de produção de substâncias químicas no nosso cérebro, que vão nos relaxar, vão regular nosso relógio biológico e, por isso, é importante as pessoas terem acesso à luz externa, que tenham acesso às janelas e não fiquem muito tempo em ambientes fechados”, afirma.

As cores e os tons escolhidos para decorar os ambientes também têm impacto positivo na elaboração do projeto. “Você sabia que a maneira de decorar também pode ter efeito direto sobre o seu humor?”, chama a atenção Ana Paula Guedes. Segundo ela, as cores escolhidas para compor o ambiente afetam a maneira como você se sente. “É criativo e te dá a chance de realmente expressar sua personalidade e colocar sua marca pessoal em seu espaço.” As cores têm o poder de nos afetar fisicamente, intelectualmente e emocionalmente, podendo nos deixar com raiva, confiantes ou felizes.

EMPRESA

No caso de uma empresa, é preciso considerar a sua cultura e a atividade que as pessoas vão executar. “Não adianta propor um espaço que não seja coerente com a própria hierarquia e a cultura dessa empresa”, salienta Bencke.

Sebastião Lopes afirma que, em empresas, deve-se considerar necessidades que envolvam desde o campo físico até o psicológico de um funcionário. “Com isso, é possível projetar um ambiente que influencie positivamente nessas pessoas, fazendo com que sua produtividade e aceitação com o ambiente sejam melhorados. O espaço deve ter elementos que influenciem os sentidos.” Para ele, uma das formas de estabelecer a integridade física e mental dos funcionários é fazer uso de elementos naturais. “Têm o poder de tornar o espaço corporativo mais produtivo, harmônico e saudável para os colaboradores. Eles beneficiam o organismo das pessoas, o que gera maior qualidade de vida e melhor desempenho em meio a um ambiente de agitação e estresse”, comenta o arquiteto.

Priscila Bencke cita uma pesquisa internacional feita pela Human Spaces, que comparou pessoas que trabalhavam em ambientes com elementos naturais e outras que não. “Primeiro, constatou-se aumento de produtividade de 6%. Segundo, constatou-se aumento da sensação de bem-estar de 15% e, terceiro, aumento de criatividade em colaboradores de 15%. São dados que usamos muito para mostrar como é importante a utilização de plantas e outros elementos naturais dentro de ambientes de trabalho”, diz.

“Uma experiência que envolve tato, olfato e aroma..., enfim, envolve nossos sentidos, nos faz vibrar. Consiste na materialização de conceitos, ideias e sensações e, por isso mesmo, numa experiência sensorial única”, finaliza Ana Paula Guedes.

Palavra de especialista - Renata Ferreira, arquiteta e designer de interiores

Interação com o espaço

“O estudo da neuroarquitetura nos ajuda a entender a forma como o cérebro reage a um determinado espaço. A luz natural, a biofilia, a escolha certa das cores, a temperatura adequada, entre outros elementos, podem diminuir o nível de ansiedade e de estresse no ambiente, aumentando, assim, o bem-estar das pessoas. Pode afetar o humor, a concentração e o desenvolvimento cognitivo do ser humano. Alguns elementos podem ativar a produção de adrenalina, aumentando o nível de estresse e, consequentemente, diminuindo o nível de concentração. As cores azuladas e esverdeadas, por exemplo, estimulam a tranquilidade e são ideais para atividades que exigem foco e concentração. Por meio da neuroarquitetura, é possível desenvolver ambientes capazes de aumentar significativamente o rendimento do estudante. A diminuição do nível de estresse aumenta a concentração, a criatividade e o nível de aprendizado. A organização e a otimização do espaço diminui o nível de distração. Em casos de crianças de até 3 anos é possível, por meio da neuroarquitetura, criar estímulos que aprimorem o sistema visual e a interação com o espaço ao redor.”

ENTENDA

Segundo a arquiteta Priscila Bencke, especialista em neuroarquitetura, esse impacto do ambiente físico, do entorno do ser humano, ocorre, normalmente, por meio dos nossos sentidos. “O ser humano tem diversos sentidos (audição, tato, paladar, visual etc.) que identificam as informações do meio externo e levam para o cérebro. A partir daí, essas informações – por meio das relações que fazemos com as experiências de vida – criam determinadas sensações no cérebro e isso se reflete no comportamento das pessoas. Então, apesar de sermos fisiologicamente iguais e funcionarmos de maneiras semelhantes, cada pessoa tem um histórico de vida e cultura, e é preciso levar tudo isso em consideração quando se pensa em bem-estar. Ou seja, é preciso pensar na personalização dos ambientes. O profissional desse meio precisa saber para quem está projetando, para entender o que pode ser feito no ambiente físico para determinada pessoa se sentir bem. Faz muita diferença ter pessoas de idades, experiências, culturas e expectativas diferentes, pois o mesmo ambiente pode responder de várias formas a elas.”

* Estagiário sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares 

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