Baixa rentabilidade residencial e comercial

Hipercentro de BH requer investimentos para se tornar competitivo no mercado de imóveis

Alguns fatores inibem a comercialização na região, como falta de estacionamento e trânsito intenso

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postado em 16/06/2019 07:00 Elian Guimarães /Estado de Minas
Elizabeth Lino da Silva, professora e residente do Centro de Belo Horizonte, destaca atividades culturais gratuitas como ponto positivo de morar na região - Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press Elizabeth Lino da Silva, professora e residente do Centro de Belo Horizonte, destaca atividades culturais gratuitas como ponto positivo de morar na região

A região central de BH demanda investimentos para retomar crescimento imobiliário. Essa é a conclusão de pesquisa divulgada pelo Instituto Data Secovi, da CMI/Secovi-MG, mostrando que o Centro da capital representa apenas 1,48% das vendas de imóveis residenciais. Morar ou investir no local é, para muitos, uma excelente oportunidade devido às facilidades de locomoção e pelo acesso rápido a diversos serviços e lazer. Os resultados do levantamento apontam que, do total de 13.947 apartamentos vendidos em 2018, apenas 207 foram comercializados no núcleo central no ano passado (1,48% do mercado).

Empresários atuantes na região confirmam o potencial do Centro como moradia, mas sinalizam que são necessárias muitas melhorias e investimentos para que a região retome o crescimento. A pouca rentabilidade tanto comercial e residencial é atribuída por Nilton Marques Barbosa Júnior, do Conselho Regional de Corretores de Imóveis 4ª Região, entre outros motivos, o grande número de moradores de rua, prédios comerciais ocupados por sem teto, falta de revitalização do Centro, falta de estacionamento e intensidade do trânsito, e muitas manifestações pelas ruas. “A vantagem é morar próximo do trabalho, quase sempre sem necessidade de utilização do transporte público. Houve algum movimento de revitalização do Centro nas décadas de 1990 e início de 2000, mas não houve continuidade”.

Rodrigo Carvalho, diretor da Ariane Imóveis, que atua há 32 anos na comercialização e locação de imóveis residenciais e comerciais na região central, afirma que muitos fatores ainda dificultam a comercialização de imóveis residenciais no hipercentro. “Podemos citar, por exemplo, o valor dos condomínios, pois a grande maioria tem uma estrutura mais antiga e a manutenção onera esse custo.”

Carvalho revela que há sinais de recuperação, mas apenas na região próxima ao Shopping Cidade, entre a Rua Espírito Santo e Avenida Augusto de Lima. “É uma região que não tem camelôs, as ruas são mais limpas, há menos moradores de rua e melhores opções de lazer”, explica.

O empresário acrescenta que os investimentos do poder público são fundamentais para que a comercialização de imóveis residenciais no hipercentro volte a crescer exponencialmente. “Muita coisa foi feita na revitalização, em 2007, mas a prefeitura não deu sequência. Para que uma cidade cresça sustentavelmente, é necessário que os projetos sejam pensados para o futuro e não para sanar um problema momentâneo”, pontua.

Já a professora aposentada Elisabeth Lino da Silva, síndica de prédio na Rua da Bahia, mudou-se do Eldorado, em Contagem, para o Centro de BH, há 15 anos. “Realmente, naquela época eram poucos os moradores de rua. Havia muitos projetos sociais dos quais participavam. Esse número aumentou muito, mas nós que moramos na região conhecemos quase todos e sabemos que essa integração social promovida junto a esse público foi sendo dissolvida. Acho muito constrangedor sair do aconchego de meu lar e encontrar alguém dormindo na rua.”

A aposentada contesta o argumento de condomínios caros. Ela administra um prédio com 170 apartamentos e aproximadamente 500 moradores, que pagam R$ 368,50 sendo que R$ 33,50 é para fundo de reserva. “O prédio tem 60 anos, uma estrutura excelente e para ficar bem conservado é só reparar os vazamentos, as infiltrações e depois pintar as áreas. Ele é muito limpo, mantemos porteiro 24 horas, serviço próprio de faxina e assessoria jurídica. O custo é um compartilhamento das despesas comuns, incluindo luz e água gastos nas áreas coletivas.”

Outro ponto positivo em morar no Centro, segundo Elisabeth, é nunca estar sozinha. “Temos diversas atividades culturais, a Rua da Bahia em si já é um corredor cultural e o poder público nos oferece inúmeros eventos gratuitos e muitos espaços de convivência, como o Parque Municipal, a Praça da Liberdade, o Mercado Central, shopping, consultórios médicos, dentistas e outros serviços muito próximos de casa. É uma paz de cidade do interior nos fins de semana.”

RUAS SUJAS

Maria Mélia Santos, aposentada, acha triste a situação do Centro da cidade. “As ruas estão sujas, calçadas malcuidadas e o mau cheiro em alguns pontos me provocam náuseas”, diz. Moradora há oito anos na Rua dos Goitacazes, depois de se mudar do Bairro Fernão Dias, Região Leste, ela aponta a acessibilidade a serviços como o ponto mais positivo: “Tenho tudo muito perto como bancos, lojas, restaurantes, supermercados, cartórios. E para visitar parentes ou amigos a disponibilidade de transporte público é um fator que agrega no quesito deslocamento”.

O mercado imobiliário do hipercentro também é objeto de pesquisa da graduanda em arquitetura e urbanismo pela Universidade Fumec Anna Alice Neumann. A estudante explica que uma de suas motivações para a elaboração do trabalho de conclusão de curso partiu do Plano de Reabilitação do Hipercentro, proposto pela prefeitura de Belo Horizonte em 2007. “Observei que, nos últimos anos, houve um desincentivo do uso residencial, além de muitos edifícios subutilizados na região. Um deles é o conjunto Sulacap-Sulamérica, onde foram projetadas 18 unidades residenciais. No entanto, atualmente, apenas quatro são usadas para este fim”, explica.

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